Uso de IA Generativa em setores regulados

A presença da inteligência artificial (IA) está cada vez mais presente na sociedade e, em muitos casos, já é impossível pensar em certos setores sem ela. A IA generativa, um ramo específico da IA, ganhou destaque na área de tecnologia nos últimos anos e revolucionou várias indústrias com suas aplicações inovadoras.
Mesmo em setores altamente regulados, como jurídico, saúde e finanças, a IA generativa tem mostrado grande potencial, mas aplicá-la a esses setores exige atenção redobrada. Por essas áreas lidarem com serviços de interesse público e dados sensíveis, até pequenos erros podem gerar grandes prejuízos, inclusive legais.
Ainda assim, muitas empresas desses ramos estão adotando a tecnologia em busca de eficiência, agilidade e melhores resultados. Neste artigo, vamos explorar os benefícios, os desafios e as boas práticas para adotar, com ética e segurança, a IA generativa em setores regulados.
Você verá neste artigo:
- O que são setores regulados e como a IA generativa pode ser aplicada a eles;
- Quais os benefícios de se utilizar IA generativa nesses setores;
- Quais os principais obstáculos no processo de adoção e como amenizá-los.
Setores regulados e IA generativa
Setores regulados são aqueles submetidos à fiscalização de agências reguladoras que atuam para garantir a segurança, qualidade e legalidade de produtos e serviços oferecidos à população. Segundo a InvestSP, agências reguladoras são “órgãos governamentais que exercem o papel de fiscalização, regulamentação e controle de produtos e serviços de interesse público oferecidos pela iniciativa privada”.
Isso significa que empresas desses setores precisam seguir normas rígidas e estar sempre em conformidade com legislações específicas. Processos auditáveis, segurança da informação, rastreabilidade de decisões e proteção de dados são exigências básicas para o funcionamento regular dessas operações, principalmente se houver emprego de inteligência artificial.
Por isso, não basta aplicar modelos genéricos nesses ambientes: é fundamental desenvolver soluções com responsabilidade, levando em conta o contexto regulatório e os riscos associados a elas.
Benefícios da IA generativa para setores regulados
Ao pensar em IA generativa, o primeiro benefício que costuma vir à mente é a automação de tarefas repetitivas. Mas os ganhos vão muito além disso, especialmente em setores regulados:
- Agilidade em processos: pesquisas, análises e geração de relatórios, resumos e contratos podem ser feitos em minutos, reduzindo o tempo gasto com tarefas operacionais.
- Decisões mais embasadas: com base em dados internos, a IA gera insights e ajuda profissionais a argumentar com mais segurança e atualidade.
- Atendimento mais eficiente: chatbots com IA generativa e PLN (processamento de linguagem natural) entendem solicitações, respondem dúvidas e encaminham casos complexos para o atendimento humano.
- Personalização de serviços: analisando o perfil e o histórico de cada cliente, a IA pode gerar propostas e sugestões de produtos e serviços personalizados para cada consumidor.
- Redução de custos: ao automatizar tarefas, a equipe pode focar em atividades estratégicas, sem aumentar o quadro de funcionários.
Esses benefícios já são realidade em várias organizações:
Memorial Sloan Kettering Cancer Center
O centro fez uma parceria com a AWS para acelerar a sua pesquisa oncológica com IA. Segundo Anaeze Offodile, diretora de estratégia da Memorial Sloan Kettering Cancer Center, a partir da inteligência artificial, é possível analisar grandes volumes de dados e gerar insights que permitam melhores tratamentos contra o câncer e cuidados mais individualizados.
JPMorgan Chase & Co.
Além de a empresa ter um programa de pesquisa na área de inteligência artificial, a instituição financeira usa IA em diversos processos, como análise de contratos e documentos legais, poupando mais de 360 mil horas de trabalho por ano, o que reflete, também, na redução de custos e de erros mecânicos.
Setor jurídico brasileiro
O Supremo Tribunal Federal (STF) já utiliza dois robôs com base em IA generativa: Victor, utilizado para “análises de temas de repercussão geral na triagem de recursos recebidos de todo país”, e Rafa, “desenvolvida para integrar a Agenda 2030 da ONU ao STF”, segundo o Tribunal.
Além deles, uma nova ferramenta também será adicionada ao time. Chamada de VitórIA, ela foi desenvolvida para identificar e agrupar, automaticamente, processos do STF que tratam do mesmo assunto.
Riscos e desafios na adoção de IA generativa
Embora a IA generativa promova muitos benefícios, ela também levanta preocupações legítimas. Segundo a KPMG, 85% das pessoas entrevistadas reconhecem o valor da IA, mas 61% ainda têm receio de confiar totalmente nessa ferramenta. Apesar disso, os investimentos globais em IA generativa somaram US$ 33,9 bilhões em 2024, indicando que o mercado continua apostando na tecnologia.
Por isso, principalmente para empresas de setores regulados, conhecer os principais riscos é essencial para usar a IA de forma segura e estratégica:
- Alucinações de IA e viés algorítmico: como os modelos generativos operam com base em probabilidades, eles podem gerar respostas incorretas ou enviesadas devido a dois problemas principais: o viés algorítmico e as alucinações de IA. Essas falhas podem levar a decisões enviesadas, como pareceres jurídicos injustos.
- Vazamento de dados: em 2023, funcionários da Samsung vazaram código confidencial da empresa via ChatGPT. Esse acontecimento gerou um alerta nesta e em outras empresas sobre os riscos do uso indevido da IA por funcionários, que acabaram expondo informações sigilosas via ChatGPT.
- Compliance e Regulamentação: governos têm criado normas para uso ético e seguro da IA. A União Europeia estabeleceu o AI Act, regulamento que trata das regras para o desenvolvimento e uso de inteligência artificial dentro do bloco econômico; enquanto o Brasil lançou o Marco Legal da IA (PL 2.338/2023), que objetiva garantir segurança ética e jurídica no uso dessa tecnologia e proteger direitos fundamentais àqueles afetados pela IA.
Entender esses desafios é o primeiro passo para adotar a IA generativa em ambientes regulados.
Como adotar IA generativa de forma segura em setores regulados
A adoção segura da IA generativa passa, cada vez mais, por um compromisso global com responsabilidade e transparência. Segundo o AI Index Report 2025, a cooperação internacional em governança de IA ganhou força em 2024, com instituições como a OCDE, União Europeia, ONU e União Africana lançando diretrizes focadas em princípios como confiança e segurança.
Além de priorizar a transparência e os sistemas de IA explicáveis, empresas podem adotar também outras práticas fundamentais para garantir o uso ético da IA:
- Privacy by Design: conceito que busca englobar a privacidade como elemento essencial do processo desde a concepção dos sistemas de IA.
- Governança efetiva: a governança de IA combina ética, regulamentação e segurança para garantir que as decisões tomadas pelos modelos sejam justas e transparentes.
- Human-in-the-Loop (HITL): abordagem que mantém a supervisão humana em processos decisivos. Por exemplo, em vez de deixar um modelo gerar e validar um laudo médico sozinho, um profissional da saúde revisa e aprova o conteúdo antes da entrega.
IA generativa e tendências para o futuro
O uso de IA generativa em setores regulados está deixando de ser apenas um diferencial. Com as inúmeras possibilidades que essa ferramenta proporciona, empresas que investirem em adoção responsável, com governança robusta, transparência e compliance, terão uma vantagem competitiva real no mercado.
A expectativa é que as soluções especializadas continuem crescendo, como mostra o desenvolvimento do L³M (Legal Large Language Model), fruto da parceria entre NeuralMind e Escavador. Voltado ao sistema jurídico brasileiro, o modelo busca apoiar a criação e a análise de peças jurídicas com mais agilidade e precisão.
À medida que a tecnologia evolui, as organizações que souberem integrar a IA de forma ética e estratégica estarão mais preparadas para liderar seus setores. Entre em contato conosco e saiba como a sua empresa pode se inserir nessa empreitada.