Especialistas debatem IA: pesquisas, tendências e aplicações no cotidiano

Especialistas debatem IA: pesquisas, tendências e aplicações no cotidiano

Realizado pela Fundação de Desenvolvimento de Pesquisa (Fundeb), o evento “Inteligência Artificial: pesquisas, tendências e aplicações no cotidiano” promoveu um debate sobre as questões mais atuais em inovação e tecnologia, sob diferentes pontos de vista, da fronteira acadêmica às aplicações no mercado.

O painel digital visou trazer o contexto atual das pesquisas, as tendências mais recentes e como a Inteligência Artificial está inserida hoje no cotidiano das pessoas, facilitando o dia a dia, sobretudo, no acesso a dados, produtos e serviços.


Participaram da discussão cinco especialistas com experiências diversas: Frederico Guimarães, professor da UFMG e responsável pelo Laboratório Machine Intelligence and Data Science de pesquisa em inteligência computacional; Patricia Tavares, CEO e Co-Founder da NeuralMind, startup investida pela Fundepar; Carmen Flores-Mendoza, professora de Neurociências da UFMG; Claudio Pinhanez, cientista de Inteligência Artificial da IBM Research e líder do Center for Artificial Intelligence; e Ivan Komatsu, gerente do Bradesco Experience, que atua como Business Owner no projeto da assistente virtual Bia. 

A seguir, reunimos os principais pontos deste debate sobre temas essenciais para a tecnologia, o mercado e a sociedade brasileira. 

Diferenças entre a inteligência humana e artificial

O conceito de inteligência artificial está relacionado à capacidade de soluções tecnológicas realizarem ações de um modo considerado inteligente. É um campo da ciência que visa estudar e desenvolver máquinas para realizar atividades humanas de maneira autônoma.

Segundo Carmen Flores-Mendoza, o questionamento sobre as diferenças entre a inteligência humana e artificial está presente na academia desde 1980, quando o pesquisador Roger Schank buscou investigar quanto de inteligência existia na IA. Ele chegou a três conclusões: primeiro, que não havia interação entre a pesquisa de IA e a pesquisa sobre inteligência humana até então. Segundo, que se superássemos essa primeira divisão e as duas áreas de pesquisa passassem a trabalhar juntas, descobriríamos que a IA seria muito relevante para a pesquisa em inteligência humana. E terceiro, que a IA poderia ser uma estratégia de pesquisa para a compreensão da inteligência real e, com ela, poderíamos chegar ao centro da inteligência humana. 

Mais de quarenta anos depois, Carmen afirma que vê com otimismo os modelos generativo e bayesiano de IA, que, segundo ela, se aproximam da escala superior da inteligência humana. Diferentemente do padrão de redes neurais que tentam predizer ou discriminar uma característica a partir de uma quantidade grande de dados, nesses modelos é possível, por exemplo, criar imagens a partir de descrições de textos, com uma diversidade que para os psicólogos nos permite até mesmo questionar o que é criatividade, aproximando a IA do pensamento simbólico e da intuição. 

Ainda sobre essa questão, Frederico Guimarães destaca que a Inteligência Artificial generalista é um grande sonho da ciência, relacionado ao nível mais avançado de inteligência, que ainda não sabemos produzir. Por outro lado, a IA especialista, que consegue resolver muito bem uma tarefa específica com um objetivo determinado, nós já conseguimos produzir de forma muito competente, com desempenho superior à inteligência humana. Por exemplo, os softwares capazes de vencer o melhor jogador de xadrez do mundo.

Para o especialista, o que a pesquisa tem feito é ampliar os limites dessas tarefas que a IA é capaz de resolver de forma mais eficiente ou melhor que o ser humano, por exemplo, o desenvolvimento do veículo autônomo. Há alguns anos era inconcebível imaginar uma IA capaz de executar essa tarefa, e hoje o veículo autônomo já é uma realidade. Isso mostra como estamos expandindo os limites do que conseguimos automatizar por meio da IA, incluindo tarefas que antes não faziam parte desse universo, como o direito e as artes.

O que se pode esperar, portanto, é uma inserção cada vez maior da IA na sociedade, no sentido de derrubar premissas sobre a inteligência na produção de formas diferentes de comportamentos inteligentes para além do que vemos hoje.

IA em assistentes virtuais e linguagem conversacional

O evento também abordou a questão dos assistentes virtuais, que já fazem parte do nosso dia a dia e que ganham cada vez mais personificação. Esse é o caso da Bia, assistente virtual do Bradesco, um projeto inovador que levou a experiência com IA para milhares de brasileiros.

Sobre essa experiência, o especialista Ivan Komatsu contou que foram necessários um time de curadoria técnica, que desenvolve os algoritmos, e um time de curadoria de conhecimento, essencial para a personificação da assistente virtual. Hoje, todas as áreas do banco possuem especialistas que definem qual será o conteúdo inserido na Bia, de uma forma que respeite o guia de linguagem e a personalidade criada para a assistente.

Neste ponto, ele destaca que a Inteligência Artificial criou novas oportunidades de trabalho para os profissionais que antes faziam atendimentos via telefone e, agora, constituem grande parte desse time de curadoria de conteúdo, trazendo sua bagagem de conhecimento sobre os clientes e as respostas esperadas por eles. Essas pessoas saíram de um trabalho operacional para o papel de estrategicamente retroalimentar os algoritmos da Bia, no que o especialista considera um amadurecimento profissional dos funcionários de atendimento.

“O objetivo da IA, para a gente, é esse: gerar novas oportunidades de emprego, que vão se transformando em novas capacidades, e ajudar o cliente a ter mais tempo, com todas as facilidades que vão deixando o dia a dia mais fácil para resolver problemas reais”, diz Ivan.

Cláudio Pinhanez, cientista de Inteligência Artificial da IBM Research, complementa o tema destacando que ainda há muito a se desenvolver no que diz respeito ao processamento de linguagem em IA. Para ele, um grande avanço foi replicar a noção de similaridade, que os humanos são capazes de computar no cérebro. 

Hoje um computador consegue descobrir que duas frases ou imagens são parecidas, e no campo da linguagem, isso significa que o único problema que está bem resolvido é a interação por perguntas e respostas. “Dada uma pergunta, dizer com que conjunto de perguntas ela é parecida, e assim chegar à resposta. Parece uma coisa trivial, mas isso nos desafiava há 50 anos, e agora fazemos bem e em escala”, diz.

Para ele, o desafio agora é produzir uma máquina capaz de conversar, o que envolve resolver problemas complexos e lidar com a sensibilidade humana, principalmente por meio da voz.  “Ainda tem muito chão pela frente, e aqui no Brasil mais ainda, porque nossos datasets em português estão 20 anos atrasados em relação aos em bancos de dados em inglês. Então um dos nossos focos é trazer o português para esse nível, criando datasets públicos de voz, de sintaxe, de palavras.”, completa Cláudio.

Startups e o cenário brasileiro em IA

Representando as startups que geram soluções de Inteligência Artificial para problemas reais, a CEO Patrícia Tavares compartilhou sua experiência da fundação da Neuralmind e comentou os desafios do cenário brasileiro para a aplicação de IA no mercado.  

“A Neuralmind foi criada em 2017, no momento em que a IA estava começando a se tornar mais presente na agenda das empresas brasileiras. Mas a recepção do mercado para nossa proposta de valor foi muito boa, justamente por trabalharmos na fronteira da tecnologia e porque nos propomos a resolver uma dor que é latente em vários setores: automatizar a análise de documentos não estruturados complexos”, conta a fundadora, que uniu sua expertise em gestão e inovação ao background acadêmico do sócio Roberto Lotufo, experiente pesquisador e professor da Unicamp.

Patrícia destaca a importância das soluções de IA que abordam a identificação de fraudes, como por exemplo, o produto da Neuralmind que identifica se uma impressão digital é de um dedo vivo ou se foi clonada. “Também temos softwares de leitura de documentos e o Neural Search, uma plataforma de busca que permite criar um ambiente como o Google para a própria empresa, permitindo acessar informações corporativas por meio de perguntas abertas”. O produto venceu uma competição em 2020, superando soluções do próprio Google e da Salesforce, uma conquista importante para o cenário brasileiro de IA.

Sobre a questão de como a Inteligência Artificial está avançando no Brasil, Patrícia conta que mercados bem regulados, como o setor financeiro, viram rapidamente o potencial da tecnologia para escalar a produtividade com segurança, evitando erros humanos e mitigando fraudes. Por outro lado, setores mais conservadores, como o jurídico, demoraram um pouco mais para buscar esse tipo de solução, mas agora já estão se abrindo pelas pressões de aumentar a celeridade em seus processos. 

“A gente ainda vê no mercado brasileiro certo desconhecimento sobre as possibilidades da IA, e ao mesmo tempo expectativas irrealistas, imaginando que a Inteligência Artificial é capaz de fazer qualquer coisa. O que a IA já nos permite é dedicar mais tempo àquilo que somente nós, humanos, conseguimos fazer. E essa é a proposta de valor da Neuralmind: aumentar a segurança nas relações entre empresas, parceiros e clientes, e liberar os colaboradores de tarefas repetitivas, guiando as pessoas para o que realmente importa, que é desbloquear o potencial humano.”, resume a CEO. 

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